O que nos perturba nos outros pode ser um reflexo de algo dentro de nós mesmos


"Se você se sente desconfortável em relação a alguém, é porque esse desconforto faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba."  Bert Hellinger

Nós vivemos em constante interação com o mundo à nossa volta e, frequentemente, nossas reações a outras pessoas e situações nos revelam aspectos profundos de nosso interior. Quando algo nos perturba em outra pessoa, é comum que atribuamos a culpa ou o desconforto àquilo que o outro fez ou à sua maneira de ser. No entanto, a verdade é que o que nos incomoda em alguém muitas vezes é uma projeção de algo que ainda está latente dentro de nós, algo que precisamos olhar, compreender e curar.

O Reflexo das nossas Emoções

Cada vez que nos sentimos incomodados, irritados ou frustrados com alguém, é importante fazer uma pausa e refletir: "O que exatamente me incomodou aqui?" Em muitos casos, o comportamento ou atitude do outro desperta algo que já existe dentro de nós — uma sensação não resolvida, uma crença limitante, uma insegurança, ou até mesmo um padrão de comportamento que não conseguimos aceitar em nós mesmos.

Isso não significa que devemos negar os sentimentos ou fingir que não há algo que precisa ser abordado. Pelo contrário, é um convite ao autoconhecimento e à cura. Quando algo nos perturba profundamente, é um sinal de que algo em nosso interior precisa ser transformado, compreendido ou curado. Ao invés de simplesmente culpar o outro, podemos aproveitar esse momento como uma oportunidade de crescimento pessoal.

Como Utilizar as Perturbações a Nosso Favor

Toda vez que algo fora de nós nos perturba, temos duas escolhas: reagir impulsivamente e manter a raiva, o ressentimento ou a frustração, ou tomar esse desconforto como uma chance de observar o que está dentro de nós, de olhar para os nossos próprios processos internos e entender o que essa situação está revelando.

O primeiro passo é praticar a auto-observação. Ao nos depararmos com uma reação forte, como raiva ou indignação, podemos parar e perguntar:

  • "Por que isso me afeta tanto?"
  • "O que isso diz sobre mim?"
  • "O que eu posso aprender com essa reação?"

Essas perguntas nos ajudam a direcionar a atenção para o interior, para o que realmente precisa ser transformado ou curado em nós. Quando conseguimos fazer isso, a situação que inicialmente parecia um incômodo ou uma injustiça se torna um ponto de transformação e de autoconhecimento.

A Cura Vem de Dentro

Entender que o que nos perturba no outro é muitas vezes um reflexo de algo em nós não é algo fácil de aceitar, mas é profundamente libertador. Isso nos coloca no controle da nossa própria paz interior. Quando conseguimos reconhecer que o desconforto vem de algo não resolvido dentro de nós, podemos trabalhar para curar essa parte.

Se, por exemplo, você se irrita quando alguém é desonesto, talvez seja porque você tem dentro de si uma necessidade profunda de verdade e transparência. Essa perturbação pode ser um sinal de que você precisa cultivar a honestidade em sua própria vida, ou até lidar com situações em que você se sentiu traído ou enganado no passado.

Outro exemplo é quando nos incomodamos com a arrogância de alguém. Pode ser que essa arrogância nos revele algo sobre a nossa própria insegurança ou um desejo de reconhecimento que ainda não conseguimos honrar internamente.

A Projeção das Nossas Inseguranças no Outro

Há um ponto importante a ser observado quando nos sentimos incomodados com o comportamento ou qualidades de outra pessoa: muitas vezes, o que vemos no outro não está realmente nele, mas é uma projeção das nossas próprias falhas ou inseguranças.

Por exemplo, quando a insegurança que percebemos em alguém na verdade é uma insegurança nossa, que tentamos esconder ou negar. Ou quando a autoestima natural de outra pessoa nos incomoda, porque a nossa autoestima depende de fatores externos, ou de condicionamentos que o outro não precisa para se sentir completo.

A questão é: está no outro ou está em nós?

Será que a nossa "pequenez" em determinado aspecto está nos incomodando quando nos aproximamos de alguém que é grande naquilo e não queremos reconhecer, ou estamos projetando nossas próprias limitações no outro? 

Será que precisamos que o outro seja pequeno e projetamos isso pra não termos que reconhecer que somos nós que precisamos evoluir? 


Transformando a Reação em Ação

Quando conseguimos perceber que nossas reações a outros são reflexos de algo interno, podemos usar essa percepção como uma ferramenta de transformação. Ao invés de reagir automaticamente com raiva, frustração ou julgamento, podemos escolher responder de maneira mais consciente, buscando sanar as questões internas que o evento externo trouxe à tona.

Essa abordagem pode ser desafiadora, mas é uma das formas mais poderosas de alcançarmos o autoconhecimento profundo e a cura emocional. É quando paramos de projetar no outro os nossos próprios medos, inseguranças e julgamentos, e começamos a olhar para dentro com compaixão e compreensão, que realmente começamos a curar.

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