A Psicologia Trina dos Kahunas: As três "Almas" Do Homem



Os kahunas, sábios ancestrais do Havaí, possuíam um sistema de crenças riquíssimo que intrigava os primeiros missionários ocidentais. Entre suas ideias mais marcantes estava a concepção de que o ser humano é composto por três espíritos distintos, cada um desempenhando um papel essencial na experiência humana. Embora essa perspectiva tenha sido rejeitada pelos missionários do século XIX como superstição, ela oferece insights que dialogam com conceitos modernos de psicologia.

O Modelo Trino do Ser Humano

Os kahunas acreditavam que o ser humano é constituído por:

  1. Unipihili (espírito subconsciente) eu inferior– Responsável pela memória e pelas funções instintivas. Embora tenha uma capacidade de raciocínio limitada, ele armazena todas as experiências e responde a sugestões, incluindo as hipnóticas. Esse seria o único com a capacidade de se comunicar com os outros dois aspectos do ser, enviando e recebendo mensagens, um papel crucial na aceitação ou recusa de sugestões que poderiam afetar a cura.
  2. Uhane (espírito consciente)  eu médio– Capaz de raciocínio avançado e de exercer vontade. É o centro da tomada de decisões, mas depende do subconsciente para acessar memórias.
  3. Superconsciência (espírito superior ou anjo da guarda) eu superior– Associado a uma força vital superior, chamada mana-loa, esse espírito é visto como uma ponte entre o ser humano e o divino, com a função de guiar e inspirar.

Essa visão apresenta paralelos interessantes com a psicologia moderna. Por exemplo, o unihipili pode ser comparado ao subconsciente freudiano, que armazena memórias e influencia comportamentos sem a intervenção da mente consciente. Já o uhane se alinha ao ego, a parte racional que toma decisões e interage com o mundo externo.

Mana: A Energia Vital do Pensamento

Para os kahunas, todos os processos de pensamento estavam intimamente ligados ao mana, a força vital que permeia o ser humano. A palavra havaiana mana-o, que significa “pensar”, reflete essa conexão: o sufixo “o” indica o uso consciente do mana para gerar pensamentos. Essa perspectiva associa o pensamento não apenas à atividade mental, mas também ao fluxo de energia que nutre e conecta diferentes aspectos do ser.

Além disso, os kahunas acreditavam que o mana influenciava o corpo e a mente em diferentes níveis. Eles associavam o mana às ondas cerebrais e corporais, descrevendo-as como manifestações das forças vitais. Essa percepção pode ser entendida como uma intuição sobre as interações entre os impulsos elétricos do cérebro e o funcionamento do corpo — um conceito que ressoa com os avanços da neurociência moderna.

O Papel do Mana na Psicologia Kahuna

Para os kahunas, o mana era a energia vital que permeava todos os processos de pensamento e ação. Essa força era dividida em três níveis:

  • Mana – Energia de baixa voltagem, utilizada pelo espírito subconsciente.
  • Mana-mana – Força de maior intensidade, empregada pelo espírito consciente na forma de vontade ou raciocínio.
  • Mana-loa – O nível mais elevado, associado ao espírito superconsciente, capaz de realizar feitos extraordinários.

Essa divisão do mana reflete uma compreensão sofisticada de como diferentes níveis de energia podem influenciar o pensamento e a ação. Além disso, os kahunas acreditavam que a interação harmoniosa entre esses níveis era essencial para o equilíbrio e o bem-estar.

Contribuições para a Psicologia Moderna

Embora as ideias dos kahunas possam parecer esotéricas à primeira vista, elas oferecem perspectivas inovadoras sobre a natureza humana. A concepção de um ser humano trino — subconsciente, consciente e superconsciente — amplia a forma como entendemos nossa psique, integrando aspectos espirituais e energéticos à ciência da mente.

Se interpretarmos essa visão sob a lente moderna, os kahunas nos convidam a explorar a interdependência das diferentes dimensões da mente. Essa abordagem pode enriquecer práticas como a psicoterapia, a hipnose e as técnicas de desenvolvimento pessoal, ajudando-nos a compreender e equilibrar nossos pensamentos, emoções e energia vital.

Conclusão

O sistema de psicologia dos kahunas demonstra como culturas ancestrais podiam ter uma compreensão profunda da mente e da energia humana, mesmo antes do advento da ciência moderna. Suas ideias, ainda que complexas, nos incentivam a buscar uma integração mais ampla entre corpo, mente e espírito, reconhecendo que o equilíbrio entre nossas diferentes dimensões é a chave para uma vida plena.


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