Pais, entendam que os filhos são para a vida; dá-se a vida de graça, e não há uma dívida que os filhos precisam pagar e a vida deles não lhe pertencem.
Filhos são donos de si, de suas personalidades, escolhas e vidas. A vida é concedida pelos pais, mas não lhes pertence.
Filhos, compreendam que pais não são perfeitos. Eles não cabem em uma definição idealizada e particular do que se espera de "bons pais". Pais são pessoas com suas próprias vidas, que não giram apenas em torno dos filhos. São humanos, antes de serem pais, com suas próprias histórias, sonhos, dores e limites.
Se você acredita que seus pais deveriam ser diferentes e se queixa que eles não aceitam quem você é, lembre-se de que você pode estar sendo incoerente. Se deseja ser aceito como é, com suas liberdades e limites, precisa dar aos outros o mesmo direito, ou estará agindo exatamente como aqueles que critica.
Esse entendimento vale para pais e filhos, mas também para todas as relações humanas. Você não precisa julgar o outro para não fazer igual.
Expectativas e Realidade
Muitos pais se iludem com seus filhos. Alguns desejam realizar sonhos pessoais através deles, outros esperam amor incondicional ou acreditam que os filhos estão em dívida por tudo que receberam. Quando dizem: "sacrifiquei tudo por você", o que realmente expressam é uma expectativa de retribuição, mas a verdade é que os filhos não devem nada por isso.
Pais são pais por escolha, independente de como isso aconteceu — seja por planejamento ou por descuido (e mesmo um "descuido" revela um desejo inconsciente). A paternidade e a maternidade são vividas através dos filhos, e o aprendizado ocorre tanto pelo amor quanto pela dor dos momentos familiares e pelo desenvolvimento de cada personalidade única. O amor que os pais sentem é experimentado por eles em primeiro lugar, eles experimentam o amor incondicional amando incondicionalmente se assim o fizerem, não exigindo ou esperando serem assim amados. Amar incondicionalmente significa não esperar ser amado da mesma forma. Isso não implica atender todas as expectativas, mas amar independente das escolhas, mesmo que isso signifique que os filhos irão se afastar.
Dar ao outro a liberdade e o direito de ser quem são e viver suas escolhas mesmo que isso não seja ao seu lado é amor. Apoiar mesmo discordando é amor.
Espelhos das Relações
Todos os relacionamentos funcionam como espelhos. Se um filho age de determinada maneira, talvez haja algo nos pais que precisa dessa interação, para trazer algo do inconsciente a tona, descobrir qual a lição para si por trás do comportamento do outro é uma responsabilidade pessoal. O mesmo se aplica ao contrário. O aprendizado é individual e não cabe a pais ou filhos forçar o outro a caber em moldes pré-estabelecidos ou se curvar as expectativas uns dos outros.
Libertem seus filhos, inclusive para não amá-los como vocês esperavam. A dor não é causada pela ingratidão do filho, mas pela expectativa frustrada de como esse amor deveria ser expressado. A contrariedade surge quando um filho escolhe um caminho diferente, mora longe ou não tem a mesma necessidade de contato. A interpretação do comportamento do outro é responsabilidade de quem sente. Um filho que não liga com frequência não significa desamor, ele pode ter a sua própria forma de demonstrar afeto. Como cada um interpreta essas ações é uma experiência interna. Por isso relações podem ser diferentes com cada filho. Pais e filhos que tem a mesma linguagem do amor podem parecer se dar melhor, apenas porque recebem amor da mesma forma que dão e assim a reconhecem.
Como cada pessoa se sente diante do comportamento do outro é uma experiência individual, é percepção. Um pai que corre para segurar uma criança que cai está agindo por amor, mas como o filho registra isso depende dele. Pode ser percebido como cuidado ou como falta de confiança. Os pais agem com base em suas programações internas, mas não podem controlar como os filhos recebem suas ações.
Amor não tem forma. Um pai ou filho pode não expressar amor conforme nossas expectativas, mas isso não significa que não estão amando. Aceitar o outro como ele é, com o que pode dar, cria espaço para que o amor se desenvolva de forma mais leve e sincera. Quando não exigimos que o outro seja o que não pode ser, ambos ficam livres para evoluir e viver de maneira mais autêntica.
O amor e a percepção são individuais. Entender que cada um tem sua própria visão de amor e que essa visão nem sempre será compatível com a nossa é fundamental. Mudanças começam em nós mesmos. Quando aprendemos com a experiência, liberamos o outro de precisar cumprir aquele papel em nossa vida.
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