Então, os fantasmas existem realmente, não é? Fiquei atônito e respondi, depois de um momento:
— É verdade, mas esse fantasma pode ser exorcizado. Falávamos do fantasma da memória, uma certa lembrança escolhida e armazenada no corpo. A memória parece uma coisa muito abstrata, enquanto os alimentos são bem concretos. Mas, neste caso, a memória é muito mais real. Se uma pessoa é compulsivamente magra ou gorda demais, isso não depende, em princípio, do que ela come. Essa é a verdade para condições menos estranhas que a anorexia. Durante séculos, a obesidade tem sido considerada uma falha de caráter, o que em épocas religiosas chamava-se pecado da gula. Com isso, afirmava-se que os gordos, usando mais energia e suficiente autodisciplina, poderiam ser magros como os outros; bastava comer menos.
Agora, tornou-se reconhecido que os regimes não resolvem o problema dos doentes crônicos (como também não resolvem o caso contrário, enchendo de alimentos os anoréxicos), porque o cérebro de um gordo manda sinais irresistíveis para que se alimente em excesso. Como são emitidas essas mensagens e como transformá-las no oposto é uma questão em aberto. A menos que se atinja algum tipo de controle em um nível muito profundo, as pessoas obesas podem passar a vida toda forçadas a fazer regimes, numa tática autoderrotista que só piora a distorção mental. A perda de 2,5 quilos é registrada no cérebro como fome. Na próxima vez em que oferecerem comida ao obeso, seu cérebro não vai querer de volta apenas os 2,5 quilos, mas 4 quilos — para se garantir contra a fome seguinte.
Sabe-se de casos em que obesos até ganharam peso com regimes, apenas com as calorias necessárias para sustentar o metabolismo basal. Isso aconteceu porque o cérebro é capaz de alterar o metabolismo de tal forma que as calorias passam a ser estocadas como gordura, em vez de serem queimadas como combustível.
Ninguém sabe por que a inteligência é tão incapaz de transformar essas distorções da autoimagem. Os fantasmas ficam mais fortalecidos à medida que lutamos contra eles. Apesar de os anoréxicos desmentirem que têm um problema, quando o médico consegue vencer essa barreira de defesa fica evidente que existe uma profunda lacuna no corpo-mente, com parte do sistema lutando para manter a racionalidade, e outra enviando furiosos impulsos irracionais. (...)
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Afirmo isso de modo categórico. O que acontece quando você vê uma cobra e dá um salto para se desviar dela? O pensamento gerado pelo medo — “Cuidado, uma cobra!” — vem a sua mente no mesmo instante em que a adrenalina o leva a saltar. Geralmente, a ideia e a ação estão ligadas a tal ponto que o pensamento consciente nem encontra tempo para formar palavras. Você apenas vê a cobra e salta. Portanto, não existe espaço para erguer uma divisão entre eles.
Deepak
Se olharmos isso através dos resultados experimentos sobre tomada de decisão, poderíamos dizer que não foi você conscientemente de decidiu saltar, foi um extinto automático - uma construção do inconsciente e a cargo dele, ele decidiu, ele mandou o impulso, comunicou os neurotransmissores e antes mesmo de você ver conscientemente a cobra o salto já estava no ponto. Uma memória, uma interpretação que gerou informação que o subconsciente armazenou e construiu uma programação por assim dizer, o programa permanece lá e é ativado por determinados eventos, mas está pronto assim você não perde tempo e economiza energia. Assim é com a cobra, com a altura, com o carro, com a comida. Algo é tão fundamental para essa mente que nós queremos ir por um caminho, mas não conseguimos. - interconexão
No caso de um anoréxico, a simples visão do alimento desperta uma onda de revolta. Talvez a vista e o cheiro de pão fresco enviem o pensamento “Oh, não posso comer isso”, enquanto o estômago se contorce, as glândulas salivares secam e todo o trato digestivo é alertado e deixa de funcionar. Claro que essa é uma reação distorcida, mas ocorre junto com o pensamento, e não há espaço para se erguer uma divisão entre ambos.
(...)Se a pessoa conseguisse transcender suas compulsões, observando-as sem se envolver, a doença terminaria. Sendo apenas uma testemunha silenciosa, ficaria livre do fantasma.
Arquimedes declarou que se tivesse uma alavanca longa o suficiente e um local para apoiá-la poderia mover a Terra — presume-se que teria de ficar em pé no espaço exterior. A anoréxica precisa desse local; infelizmente, o ser humano é confinado ao espaço interior. Ninguém tem um sistema nervoso extra pendurado no armário, no caso de o primeiro ficar com ideias estranhas. É triste mas inevitável: não há lugar lá fora para ficarmos em pé.
Sem nos apercebermos, confiamos muito no fato de nossos pensamentos desencadearem as substâncias químicas adequadas para nossos corpos; a mente e suas moléculas mensageiras são combinadas de um modo automático e perfeito. Mas esse processo pode ser interrompido e, então, a convulsão resultante será como acionarmos dois programas diferentes no mesmo computador — quando o input está avariado, não é de se estranhar que o printout, seu corpo, fique em desordem.
Em qualquer ponto do corpo-mente duas coisas se aliam — uma partícula de informação e uma partícula de matéria. Das duas, a informação tem vida mais longa que sua matéria sólida correspondente. Enquanto os átomos de carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio giram por nosso DNA como pássaros de passagem, que descansam um pouco e continuam a migrar, a partícula de matéria se modifica, mas sempre existe uma estrutura à espera dos próximos átomos. O DNA nunca movimenta mais que um milésimo de milímetro de sua estrutura precisa, só porque os genômios, partículas de informação no DNA (eles são 3 bilhões), lembram para onde tudo vai. Esse fato nos leva a compreender que a memória deve ser mais permanente que a matéria. Então, o que é uma célula? É uma memória que construiu um pouco de matéria a sua volta, formando um modelo específico. Nosso organismo, portanto, é apenas o lugar que nossas memórias chamam de lar.
(...)
Quando se cuida de um dependente, desintoxicando seu organismo e mantendo-o afastado do álcool e das drogas durante muitos anos, todas as células antigas que haviam ficado “quimicamente dependentes” se acabarão. Mas sua memória permanecerá, e, se lhe dermos uma chance, ela o levará de volta às substâncias que provocaram a dependência. (...)
O que torna o vício tão assustador é que os receptores do cérebro estão sempre dispostos a cooperar com as instruções da mente. Lembre-se de sua reação de tensão ao ouvir o motor de um carro a suas costas, quando, então, a adrenalina é infiltrada em seu sangue.
Sabemos que parte da reação geral é o estômago e os intestinos interromperem o processo de digestão. Mas, como a reação do estresse é temporária, essa é uma atividade correta do organismo e acontece automaticamente.
Porém, se você prefere viver em um ambiente que cria estresse constante, chegará um momento em que seu organismo vai querer voltar a digerir os alimentos. Surgirá, então, um conflito profundo, porque a reação ao estresse será de dizer “não” ao estômago, enquanto outra parte do cérebro (o hipotálamo, provavelmente) dirá “sim”. A desordem resultante criará contrações no estômago e cólicas nos intestinos. Esses órgãos começam a perder seu ritmo natural e, se você não lhes der chance de recuperá-lo, acabarão se transformando em vítimas de memória errônea, tão certamente quanto alguém contrai um vício. O estômago vai começar a produzir suco gástrico nas horas erradas, o cólon entrará em espasmos e a suave articulação do sistema gastrintestinal entrará em colapso.
Compilado do Best Seller A Cura Quântica #Leitura Recomendada
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