A maior parte dos componentes da estrutura de uma célula é chamada de organela, seus "órgãos em miniatura" que ficam dentro de uma substância gelatinosa chamada citoplasma. As organelas equivalem aos tecidos e órgãos do corpo humano. Possuem um núcleo, que é sua maior organela, uma mitocôndria e o complexo golgiense, além de vacúolos.
Ensinei a meus alunos que os mecanismos bioquímicos utilizados pelos sistemas de organela celular são basicamente os mesmos utilizados por nosso corpo. Embora sejamos compostos de trilhões de células, enfatizei que não há sequer uma "nova" função em nossos corpos que não esteja presente também nos das células. Cada célula eucariótica, isto é, que contém um núcleo, possui uma estrutura funcional equivalente aos nossos sistemas nervoso, digestivo, respiratório, excretor, endocrinológico, muscular, esquelético, circulatório, tegumentar (pele), reprodutivo e até mesmo algo parecido com nosso sistema imunológico porém mais primitivo, que utiliza uma família de proteínas semelhantes a anticorpos do tipo "ubiquitina".
Expliquei também que cada célula é um ser inteligente e que sobrevive por conta própria, algo que os cientistas já demonstraram retirando células individuais do corpo para mantê-las em cultura separada. Assim como eu havia descoberto intuitivamente durante minha infância, essas células inteligentes têm vontade própria e um propósito de vida. Procuram ambientes que sejam adequados à sua sobrevivência e evitam todos os que possam ser tóxicos e/ou hostis. Da mesma maneira que nós, humanos, fazemos, analisam as cen-tenas de estímulos que recebem do microambiente que habitam para selecionar as respostas comportamentais mais adequadas e ga-rantir sua sobrevivência.
As células também são capazes de aprender com as experiências que vivenciam em seu ambiente e de criar uma espécie de memória que é passada aos seus descendentes. Por exemplo: quando o vírus do sarampo infecta uma criança, suas células ainda não amadurecidas são colocadas em ação para criar um anticorpo de proteína protetor e combatê-lo. Nesse processo, as células criam um novo gene que servirá de padrão para a fabricação de anticorpos contra o sarampo. O primeiro passo para gerar um gene de anticorpos ocorre no núcleo das células imunológicas imaturas. Em seus próprios genes há um grande número de segmentos de DNA que contêm códigos de fragmentos moldados de proteínas. As células imunes ativadas fabricam centenas de cópias de seu gene de anticorpo. Mas cada nova versão do gene é levemente modificada e contém um formato diferente da proteína de anticorpo. A célula seleciona a variante de genes que melhor se adapta àquela necessidade de anticorpos. Quando o anticorpo esculpido se une ao vírus, desabilita-o e o marca para ser destruído, protegendo a criança do sarampo. As células criam então um "arquivo" das informações genéticas desse anticorpo para que todas as vezes que o organismo for invadido pelo vírus do sarampo elas possam responder imediatamente.
O novo gene de anticorpos também pode ser passado a todas as novas gerações em seu processo de divisão. Assim, elas não apenas "aprendem" sobre o vírus do sarampo como criam um "arquivo" a ser herdado e propagado entre a sua prole. Este magnífico processo de engenharia genética é de extrema importância, pois representa um mecanismo de "inteligência" inata que permite às células se desenvolver .
Se alguém acredita que os genes controlam sua vida e que são programados desde o momento da concepção, tem uma boa desculpa para se considerar uma vítima da hereditariedade. "Não tenho culpa de ter maus hábitos. Não posso mudar minha tendência de deixar tudo para a última hora... São minhas características genéticas!"
Desde que se iniciou a era da genética, temos sido levados a crer que não há como lutar contra aquilo que fomos programados para ser. O mundo está cheio de pessoas com medo de que seus genes possam se voltar contra elas. Imagine o número de indivíduos que se consideram verdadeiras bombas-relógio, com medo de que o câncer se desenvolva em seu organismo a qualquer momento só porque isso aconteceu com seus pais, irmãos ou tios. Outros atribuem sua falta de saúde não apenas a uma combinação de fatores mentais, físicos, emocionais e espirituais, mas também a falhas no mecanismo bioquímico de seu organismo. Seus filhos não se com-portam bem? A primeira reação dos médicos é corrigir seu "dese-quilíbrio químico" por meio de medicamentos em vez de tentar descobrir o que há de errado com seu corpo, mente ou espírito. Claro, algumas doenças como coreia de Huntington, talassemia e fibrose cística são de origem genética. Mas distúrbios desse tipo afetam menos de dois por cento da população. A maioria das pessoas vem a este mundo com uma carga genética capaz de lhes proporcionar uma vida muito feliz e saudável.
Doenças que ainda não têm cura como a diabetes, problemas cardíacos e o câncer podem destruir a vida de muitos, mas não são resultado de um único gene e sim de complexas interações entre genes múltiplos e fatores ambientais.
Uma coisa é dizer que um fator está relacionado a uma doença, outra é dizer que ele é a causa dela, pois isso envolve uma ação direta. Se eu lhe mostrar um molho de chaves e disser que uma delas "controla" meu carro, você vai achar que faz todo sentido, pois sabe que é necessário usar uma chave para dar partida em um automóvel. Mas será que a chave realmente "controla" o carro? Se fosse assim, não se poderia deixar a chave no carro porque ela iria querer passear sozinha com ele quando você não estivesse por perto. A chave está "relacionada" ao controle do carro; a pessoa que a tem nas mãos tem controle sobre ele. Da mesma maneira, determinados genes estão relacionados ao comportamento de um organismo e às suas características. No entanto, permanecem em estado passivo a menos que uma força externa aja sobre eles. Mas que força é essa que pode ativar os genes? Uma resposta interessante para essa questão foi publicada em um ensaio de 1990 intitulado "As metáforas, o papel dos genes e o desenvolvimento", de H. F. Nijhout (Nijhout, 1990).
Nijhout apresenta : "Quando determinada característicade um gene se faz necessária, o ambiente gera um sinal que o ativa. O gene não se manifesta por si só". Ou seja, quando se trata de controle genético o que fala mais alto "é o ambiente, sua besta".Um estudo importante publicado pela Universidade de Duke em lu de agosto de 2003 sobre biologia molecular e celular mostra, que EXPERIÊNCIAS DA VIDA DOS PAIS MOLDAM O PERFIL GENÉTICO DAS CRIANÇAS .
Um grupo de pesquisadores da Austrália, liderado por B. A. Cornell, publicou um artigo no Nature confirmando a hipótese de que a membrana das células é um homólogo de um chip de computador (Cornell et al., 1997).
A definição de um chip de computador: "Um chip é um semicondutor de cristal com portas e canais". a ideia é de que um chip e a membrana de uma célula podem ter a mesma definição técnica. A membrana celular tem realmente estrutura e funções equivalentes (homólogas) às de um chip de silício.
O fato de a membrana de uma célula e um chip de computador serem homólogos nos permite estudar e entender melhor a estrutura das células comparando-as aos dos microcomputadores. Além disso, leva-nos a concluir que elas são programáveis. A segunda descoberta é que o programador está fora da célula/computador. O comportamento biológico e a atividade genética estão dinamicamente ligados às informações do ambiente, que podem ser descarregadas (como um download) no interior da célula.
A membrana mágica, nos ensina que o controle de nossa vida não depende de sorte ou das características estabelecidas no momento da concepção, mas sim de nós mesmos. Somos os senhores de nossa biologia; administradores do programa de processamento. Temos a habilidade de editar os dados que entram em nosso biocomputador, assim como todas as palavras que são digitadas. Quando entendermos como as PIMs controlam a biologia, deixaremos de ser meras vítimas de nossos genes para nos tornar senhores de nosso destino.
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Esse texto é uma compilação do livro A biologia da crença de Bruce H. Lipton
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